"Valente e brioso, como ele, não vi!"
Como citei no post “Quanto a Gonçalves Dias...”, foi-me dito
que este poeta havia apenas produzido I-Juca-Pirama. Ora, após alguns momentos
de reflexão enquanto o lia, peguei-me pensando caso tal poema é conhecido ao
redor do país. Por exemplo, pergunte a qualquer estudante de pré-vestibular em
meu estado e ele saberá falar a escola, estrutura, personagens, temática,
enredo e divisão do poema. Como uma verdadeira ex-vestibulanda, venho aqui para
dizer-lhes.
Para começar, falemos da escola e do estilo. Gonçalves Dias
é o maior representante da primeira geração romântica. Indianista, modelando os
costumes indígenas a seu bem-querer, de modo a formar uma visão altamente
idealizada, como se vê na referência religiosa, citando um deus não compatível com a cultura.¹ É um poema narrativo, porém não é de gênero épico e sim lírico, perpassado
pela subjetividade e sentimentos do poeta. Quanto a estrutura dos versos...
Gonçalves Dias alterna dentre versos longos, estes sendo mais lentos e voltados
para descrições, e versos curtos, remetendo à sonoridade do rufar dos tambores
indígenas. Na verdade, esta é a razão de meu gostar deste poema. Quando lido em
voz alta, a sonoridade dos versos é impressionante.
O personagem principal possui um nome interessante. I-Juca-Pirama,
em uma tradução livre da língua tupi, significa “o que há de ser morto; o que é digno de ser morto”. Leitor amigo,
guarda esta informação, voltaremos a ela dentro de alguns instantes.
Basicamente, I-Juca-Pirama é feito prisioneiro pela tribo
dos Timbiras e estava prestes a ser morto (e aqui cabe uma referência à
antropofagia). Porém, ao ser dada a chance do canto de morte² ao índio Tupi
(I-Juca-Pirama), este roga para ser liberto, pois seu pai é cego e o aguarda
floresta adentro. Alega que, caso não volte, o ancião morrerá. Veja, leitor,
que ultraje! Um índio, em face da morte, não implora por liberdade. Fraqueza.
Os Timbiras o deixam ir, I-Juca-Pirama já não é digno de morte.
O Tupi encontra seu pai e começam uma caminhada. Qual não é
a coincidência que seus passos os levam à tribo Timbira. O velho Tupi pede
acolhimento, o chefe Timbira esclarece o ocorrido. O pai de I-Juca-Pirama
pronuncia uma maldição ao filho, o renegando como de seu sangue.³ I-Juca-Pirama
prova sua força matando a tudo e a todos que vê pela frente. Prova sua força e
coragem. É I-Juca-Pirama, guerreiro digno de morte. Ao final do poema, nos é
mostrado o narrador da história, um índio que era moço na época do acontecido e
que, agora, espalha a história do jovem Tupi.4
¹"
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou"
²"
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi."
³"
'Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descente o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!' "
4"
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: 'Meninos, eu vi.' "
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