Thursday, March 28, 2013

Eu.

Quem sou eu?
Não é a primeira vez que me pergunto sobre esta questão. 
Acaso sou aquela menina tímida, que fica no seu canto, assistindo os outros interagirem abertamente uns com os outros? Aquela que se envergonha com qualquer comentário feito por qualquer pessoa quanto a ela própria? Aquela que não gosta de chamar atenção para si e muda o foco da conversa assim que vira tema da roda?
Acaso sou aquela garota que ri alto e faz comentários engraçados a cada oportunidade, provocando gargalhadas em conhecidos e estranhos? Aquela que é altamente confiante quando o assunto é ela mesma? Aquela que não se importa se estiver sendo o assunto do momento, mas que não perde a oportunidade de produzir uma piada quanto a isso?
Acaso sou aquela mulher que é relativamente madura e que passa uma imagem séria para as pessoas ao seu redor? Aquela que, quando conhecida por alguém, provoca o pensamento: "Não, aquela não é para se brincar."? Aquela que encara os problemas com uma armadura no peito - para não atingir o coração - e um lenço nos olhos - para não escorrer uma gota de lágrima?
Quem sou eu?
Uma pessoa confusa, complexa, sensível - mais racional do que sensível, decidida, simples?
"Quem sou eu?", volto a me perguntar.
Eu?
Eu sou eu.

Monday, March 25, 2013

Qualquer dia...

Um dia eu vou conhecer
Um dia eu vou pensar
Um dia eu vou sorrir
Um dia eu vou querer
Um dia eu vou conquistar
Um dia eu vou ceder
Um dia eu vou gargalhar
Um dia eu vou chorar
Um dia eu vou mudar
Um dia eu vou encarar
Um dia eu vou escolher
Um dia eu vou achar
Um dia eu vou amar
Um dia eu vou dizer "sim" 
... pra alguém.

Thursday, March 14, 2013

Uma boa filosofia.

"Pouco me importa.
Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa."
24/10/1917
Alberto Caeiro.

Tuesday, March 12, 2013

A Valsa - Casimiro de Abreu.



"Tu, ontem, 
Na dança 
Que cansa, 
Voavas 
Co'as faces 
Em rosas 
Formosas 
De vivo, 
Lascivo 
Carmim; 
Na valsa 
Tão falsa, 
Corrias, 
Fugias, 
Ardente, 
Contente, 
Tranqüila, 
Serena, 
Sem pena 
De mim!
Quem dera 
Que sintas 
As dores 
De amores 
Que louco 
Senti! 
Quem dera 
Que sintas!... 
- Não negues, 
Não mintas... 
- Eu vi!...

Valsavas:
- Teus belos
Cabelos,
Já soltos,
Revoltos
Saltavam,
Voavam,
Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias
P'ra outro
Não eu!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera 
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!

Meu Deus!
Eras bela,
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo, 
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem?!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...

Calado,
Sozinho,
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!
Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...

Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Então;
Qual pálida
Rosa
Mimosa,
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída
em vida
No chão!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!..."
Rio - 1858
Casimiro de Abreu.

Saturday, March 09, 2013

Papel em branco.

Há uma satisfação incrível e totalmente solitária em ter um papel pautado em branco e novo em mãos. As possibilidades que ele carrega são infinitas; Os caminhos que podes tomar para preenchê-lo são infinitos; Os modos que podes usá-lo são infinitos; As ideias que surgem em tua cabeça são infinitas.
Montas personagens, histórias, cenários e situações diversas. Inícios, meios e fins rodeados de significados que vêm à tona de acordo com seu leitor. Imaginas tragédias, romances, comédias, poemas, prosas, dramas, peças... A vontade aflora dentro de ti e acabas por sorrir para a folha de papel.
Pegas, então, teu lápis. – Pois que uso lápis e não lapiseira por uma simples questão de gosto. Penso que o lápis combina mais com a sensação de transformar palavras em uma história. Com licença.
Bem, de lápis na mão, papel posicionado no ângulo correto e empolgação espalhada por todo o corpo, te preparas para começar a escrever.
Paras, então, por um instante. Percebes que já deste um fim para aquela história. Como podes escrever, agora, se já sabes como termina? Perdeste aquele sentimento impagável de novidade. Se escreveres agora, não vais mais conseguir passar a mesma emoção que querias.
Suspiras.
Sorris.
Toda a mensagem que querias passar já viveu seu momento de glória dentro de ti. É o suficiente.

Balanças a cabeça e abandonas teu papel. Ainda em branco.


Sunday, March 03, 2013

Mundo da lua.


A ré fora acusada de viver com a cabeça no mundo da lua por duas vezes em menos de uma quinzena.  Seu caso foi aberto ao juri popular. Escutou-se os relatos de testemunhas. A acusada, agora, detinha a palavra.
"Eu tenho, primeiramente, uma pergunta a fazer aos jurados, Excelência. O que é viver no mundo da lua? É não se estressar? É não ter pressa? É não se importar muito com a opinião alheia? É não encarar os meus problemas como os mais graves? É não reclamar? É não deixar de sorrir? É não parar de brincar? É valorizar mais os pontos positivos do dia aos negativos? É ser positiva? É se recusar a se deprimir? É se recusar a chorar todos os minutos do dia? É agradecer pela vida não ser pior? Porque ela pode ser, senhores. Sempre pode ser pior. Sempre. É procurar não escolher um lado em uma briga? É procurar se r imparcial? É sempre tentar não se entristecer? Mesmo que tenha inúmeros motivos desconhecidos pelo olhar externo? É se arrepender de não sorrir mais? É achar que o teu problema é teu e não meu? É se magoar e não dizer? É evitar uma discussão ao máximo? É não gostar de gritos? É não gostar de brigar? É preferir ficar quieta? É gostar de ficar quieta?
Pois então, caros jurados, é com muito prazer que vos digo que sim, eu vivo no mundo da lua."
Sendo assim, a ré confessa o crime e é condenada.