Wednesday, April 24, 2013

Crescer.



Ela subitamente hesitou em seus passos. Encarou o caminho à sua frente, reto, liso, claro e natural. À sua esquerda havia outro, porém. Este era cheio de ondulações, curvas e mais longo. Olhando atentamente, nossa personagem notava que ambos desembocavam no mesmo destino.
Qual a diferença, então?
Espiou por sobre o ombro para ter certeza de que a urgência que sentia em ter de escolher um dos dois caminhos não era feita pela pressão de um muro de concreto às suas costas. Não era. Ela sabia que não era. Essa sensação claustrofóbica era produzida pelo tempo. Pela passagem do tempo, melhor dizendo.
Nossa amiga, leitor, não sabia quando aquilo começara. Talvez quando ingressara na universidade. Ou quando completou 18 anos. Não. Começou, realmente, quando se inscrevera para o vestibular. A responsabilidade de escolher um curso que se tornaria a profissão para, como dizem, o resto da vida.
Respirando fundo, deu um passo incerto. Ganhou mais confiança, ergueu o queixo e reiniciou sua solitária caminhada... No fundo, ela sabe que escutará "nãos", portas se fecharão, oportunidades novas virão e chances serão dadas, mas é o curso natural das coisas. A chave para ser bem sucedida é não ficar com medo e escolher o outro caminho. 
Crescer, todos crescem. A diferença é de como tal passagem é feita.

Saturday, April 13, 2013

'Um beijo' para o dia do beijo.


"Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto..."
Um Beijo
Olavo Bilac.

"E que Deus lhe de em dobro" ??


Ontem, indo para a universidade, subi em um ônibus relativamente cheio. Consegui sentar em uma cadeira vaga, até. Algumas paradas depois, subiu um desses pedintes nosso de cada ônibus. Até aí tudo bem, ele me deu um pedaço de papel com algumas coisas escritas. De início, eu não leria. Mas alguma coisa me fez lê-lo. 
Não é a primeira vez que escuto/leio algo do gênero: "E quem não poder (ajudar) obrigado pela atenção e que Deus abençoe e lhe de em dobro". É o que vem escrito no papel que fiz questão de tirar foto.
Não sei se entendi bem, mas por acaso isso foi uma tentativa de chantagem emocional? Quer dizer, eu tenho que ajudar aquela pessoa porque ela diz que Deus me dará em dobro o que eu der a ela? Como funciona isso? Eu dou vinte centavos e recebo quarenta? 
Na verdade, o pior nem é isso. O pior é o sentimento que aquilo carrega. A pessoa não está desejando que sejas abençoado coisa nenhuma, sejamos sinceros. Pelo contrário, na verdade. Usa a crença das pessoas de uma forma totalmente negativa. 

Depressivo é saber que há pessoas que dão dinheiro para pedintes como este quando leem isso. É uma sensação de estar de volta à Idade Média, onde Deus era usado para regular o comportamento das pessoas. E Ele era usado exatamente do mesmo modo: Através do medo de uma punição divina, o fiel fazia como lhe era dito.

Acaso não é isso que este cidadão estava fazendo? Melindrando os passageiros daquele ônibus?
Eu até poderia dar umas moedas para o homem, mas quando cheguei nas últimas linhas do papel, tive certeza que só devolveria aquela mensagem sem dinheiro algum.

E, na verdade, eu poderia escrever muito mais coisas, mas a indignação é tão grande, o sentimento de que aquilo é errado é tão concreto dentro de mim que nem argumentos formulados possuo. Sendo assim, termino sem conclusão.
Ou não.


Wednesday, April 10, 2013

Eu quero um amor.

Eu quero um sapato novo.
Eu quero uma blusa nova.
Eu quero um celular novo.
Eu quero um computador novo.
Eu quero uma vida decente.
Eu quero uma casa bonita.
Eu quero amigos verdadeiros.
Eu quero um carro confortável.
Eu quero um amor. 
Eu quero um amor que me puxe por inteira; Que me faça pensar porque ser racional quando posso deixar tudo acontecer pelo emocional; Que me faça esquecer porque evitar se apaixonar; Que me force a mostrar o que há a mais em mim; Que me mostre que não há problema em ser melosa.
Eu quero um amor para dizer que amo.
Eu quero um amor que me ame.
Eu... só quero um amor.


Wednesday, April 03, 2013

Diálogo interessante.

Em um dia, como outro qualquer, uma esposa aguarda a chegada de seu marido em casa. Como sempre, ele estava atrasado. Andando de um lado para o outro, a esposa ouve a chave rodar na fechadura da porta e se coloca em frente a esta, de braços cruzados, para ser a primeira coisa que o marido veja quando entrar em casa. O marido, surpreso com aquela recepção, hesita com a porta aberta, a chave ainda na fechadura.
- Há algo errado, querida?
- A empregada está grávida, esposo.
- Bem, problema dela. - Fecha a porta.
- O filho é seu. 
- Problema meu. - Coloca sua pasta de trabalho em cima da bancada do hall de entrada.
- E eu?! Como fico?!
- Problema seu. - O marido entra no banheiro e começa os preparativos para o banho.

Monday, April 01, 2013

Escrevo.



"
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?"
Paulo Leminski