Friday, February 22, 2013

Quanto a Gonçalves Dias...

Gonçalves Dias, Gonçalves Dias... Pois que discuti por tua causa em uma dessas tardes passadas. Acreditas, indianista, que ousaram me dizer que o único poema que escreveste fora I-Juca-Pirama? Quando insisti que não, afirmaram que era, então, o único que "prestava". 
Gonçalves Dias, queira perdoar minha falta, mas não conheço tua obra completa. Conheço, entretanto, um ou dois poemas que tocaram romanticamente esta alma que luta por ser racional. Criou-se o impulso de postar ao menos um deles neste blog. 

                                                                                                  

Não me deixes

Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava...
"Ai, não me deixes, não!

"Comigo fica ou leva-me contigo
"Dos mares à amplidão,
"Límpido ou turvo, te amarei constante;
"Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"

E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"

Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que não a deixasse, não.

A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"
Gonçalves Dias.

No comments:

Post a Comment