Lembra que eu era uma página em branco, leitor? Esperava por um bom e afiado lápis me encontrar e escrever em mim tudo o que quisesse. Transmitir os pensamentos ou contas matemáticas apenas para que me preenchesse. Quão boba eu fui. Nunca pensei ou parei para imaginar a possibilidade de que esse sentimento de completude fosse ser tão arrasador e, ao mesmo tempo, sereno como uma brisa das cinco da tarde.
Ele chegou como um rabisco suave
que está ali apenas por estar e, quando percebi, já estava todo sobre mim. Nos
cantos e nas bordas. Do cabeçalho ao rodapé. Já não havia espaço para mais nada
além dos seus desenhos abstratos em minha página. Desenhos, sim, pois tudo sob
os olhos da paixão torna-se belo, e abstratos por ele ser esta pessoa tão
diferente de mim que custou-me a entende-lo. E, mesmo hoje, não tenho tanta
certeza de o ter desvendado por completo e isso, ao invés de afugentar-me,
apenas me impulsiona mais para saber cada segredo e cada mania dele.
Já não sou uma página em branco,
leitor. Nem ele é um lápis errante à procura de um repouso tampouco. Talvez um
dia tenhamos borrachinhas e apontadorezinhos, quem sabe.
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